Nesta foto o Coronel aparece com sua
primeira família
Nascera ele em 1870, na vizinha Embaú, e veio ainda moço
morar definitivamente em Cruzeiro.
E por Cruzeiro fez muito. Costumo dizer em minha roda de
amigos: “o Coronel fez tudo o que podia,
e mais alguma coisa ainda”. Foi
Intendente de Cruzeiro nos anos de 1905 a 1906; Prefeito eleito nos anos de
1910 a 1917; e novamente em 1935. Em seu primeiro mandato, fez a primeira rede
de esgotos da cidade, trouxe a primeira água da Serra, construiu Grupo Escolar Arnolfo Azevedo. Foi dele também a
proposta de fazer as ruas de Cruzeiro com leito carroçável de 15 metros de
largura (porem a Câmara, depois de muitas brigas com o Coronel) aprovou 12
metros de leito carroçável. Não tenho certeza, mas acredito que essa “briga”
aconteceu em seu mandato de 1935. Quando já era preciso abrir as ruas Cinco,
Seis. Sete, Oito e Nove. Trouxe também a luz elétrica, e como não poderia
deixar de ser, ajudou o nosso sonhado Frigorífico, a plantar seus alicerces em terras cruzeirenses.
Este, também
patriarca, foi dono de um coração que era muito maior que ele próprio.
Casou-se duas vezes e como conseqüência destas núpcias, nos
deu vários filhos, e quase todos se destacaram na tarefa de emoldurar a cidade
de Cruzeiro, quer no âmbito municipal ou dentro do cenário brasileiro.
Coronel José de castro
(meu ídolo)
Nunca fez um inimigo sequer. Não admitia qualquer forma de
sentimentos de hostilidades em qualquer dos corações nobres, que ele ajudou o
Altíssimo gerar. Isso quem me afirmou foi sua filha Da. Irma de Castro Zamponni. (hoje
infelizmente “in memorian) .
Era, pois um homem de palavra e íntegro por natureza.
Desta forma então, com a participação fundamental deste
Coronel, nascia então o projeto que se chamaria FRIGORÍFICO. E que por muitas
décadas, foi a principal fonte de
emprego nesta região.
Como Nasceu a Empresa.
Mais
ou menos por volta do ano de l910, o Coronel José de Castro foi procurado
pelo Sr, Elvir Moeller, com o objetivo
de construir um Frigorifico nos terrenos da Fazenda do Major Novais. Porque
ficava próximo aos trilhos da ferrovia e isso facilitava a compra de gado para
o abate. Como o Coronel já estava fora de mandato de intendente, isso porque em
1908 fora eleito para prefeito o Major Hermógenes de Azevedo Souza, que
cumpriu seu mandato até 1910. O Coronel então se prontifica a ajudá-lo a obter
sucesso junto ao Prefeito.
Major
Hermógenes de Azevedo Souza
(Prefeito de 1908 a 1910)
Essa foto, segundo alguns
historiadores, é a Praça Passeio Publico, construída durante a gestão do
prefeito Major Hermógenes
O
Coronel José de Castro voltou a ser o prefeito. eleito de 1910 até 1917. Mas. Por ora, ele podia apenas
contar com o total apoio do Prefeito atual, e junto com o empresário alemão Sr
Elvir Möeller, expôs todo o projeto ao
prefeito Major Hermógenes. Sr Elvir, mostrando ser um exímio empresário do ramo
de proteínas animal, mostrou todo o seu projeto de se construir um frigorífico.
Seu
discurso empolgou tanto o Coronel, que mesmo não tendo muitos recursos municipais,
pois Cruzeiro ainda era uma cidade bem pequena, não quis perder tempo. Viu neste alemão a chance de crescimento da
cidade.
Nessa fotografia tirada no
ano de 1896, na cidade de Porto Alegre-RS, consegui identificar o Sr. Henrique
Elvir Moeller, que está sentado ao centro, segurando uma criança no colo; sua
esposa, Sra. Ninna Möeller e, sentado na extremidade esquerda de quem olha a
fotografia, usando uma gravata preta e aparentando ter doze ou treze anos,
Gustavo Moeller.
Esse garoto, veio a ser o
ramo da família que permaneceu por aqui, e nos presenteou com vários
empresários de sucesso. Dentre eles, aproveito para agradecer o casal Da.
Ieda e Sr. Misael Matheus Carvalho, a
gentileza da atenção, que muito me ajudou nesta descrição e proporcionou para
nós cruzeirenses, a publicação desta bela foto. Da. Ieda, é filha de Gustavo Möeller,
o garoto da foto, e por conseqüência, neta do Sr. Henrique Elvir Möeller.
Os Pioneiros
O Sr. Henrique Elvir
Moeller, segundo consta no livro: “Impressões
do Brasil – Século XX”, Edição inglesa, publicado em 1913 pela editora LTD,
( cita em suas páginas não só o Sr Henrique Elvir Moeller, mas também o Sr
Antonio Conde e o Coronel Jose de Castro como os três homens mais bem sucedidos
no Brasil e para nosso orgulho os três agora moravam em Cruzeiro-SP).
Nasceu Henrique Elvir, na
Alemanha em 1864. Em 1882, com dezoito anos apenas e casado com Da. Ninna Möeller,
embarcaram para o Chile onde adquiriu um Frigorífico e uma Fábrica
Manufatureira de Artigos Variados. Com o Frigorífico, especializou-se na
fabricação de: carne em conserva, carne defumada, presunto cosido, mortadela,
língua preparada, costela defumada, bacon, charque, extrato de carne e banha de
porco. Com a sua outra empresa, fabricou: Sabão, Gelo, Pentes e botões de
ossos, etc.
É desconhecido, pelo menos por mim, o motivo
por qual, vendeu as duas empresas em 1896, depois de morar 14 anos no país do
“cobre”, e mudar para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Quero crer que, não
só o Sr. Henrique, mas também a sua esposa, amavam demais as aventuras. E uma
vez não morando em sua querida Alemanha,
isso também contribuiu em muito para tomar certas decisões bruscas, como tomou em outras
oportunidades.
Infelizmente esta tentativa
no sul do Brasil, não saiu como ele esperava. Deparando-se com um estado muito
fragmentado e cheio de atritos políticos
partidários e ainda por cima, recém saído de conflitos armados, acabou por
perder quase toda sua fortuna.
Destarte então, em 1910, ele, sempre com toda
a sua família, aventura-se novamente e vai para a zona da mata de Minas Gerais
e se estabelece na cidade de Barbacena. Fundando ai o Frigorifico Möeller e
Companhia, que abatia 100 reses por dia.
Foto do Frigorifico de Barbacena-MG
Com a experiência que ajuntou
ao longo dos anos, e chegando ao estado de Minas Gerais, já com sua fortuna
deteriorada, o seu frigorifico se torna um fardo grande para ele carregar nos
ombros.
Embora fabricando os mesmos artigos que fabricava
anteriormente no Chile, ele não consegue estabilizar a sua situação financeira.
Nessas alturas, ele para continuar tendo sucesso como empresário, vislumbrou
que “com um frigorifico novo, não precisando pagar aluguel e tendo apoio de um
prefeito”, ai sim, ele conseguiria novamente a se reerguer.
Foi então que ele teve a
idéia de procurar o Coronel José de Castro em 1910, para que ele o ajudasse a
mostrar ao Prefeito de Cruzeiro Major Hermógenes, os planos de construir um novo
Frigorifico, com todos os recursos possíveis da época.
Qualquer prefeito,
principalmente de cidades pequenas, ajudaria sem problemas qualquer empresário
que viesse com grandes idéias. E como tal, contando ainda com a ajuda do
Coronel Jose de Castro, não foi muito difícil de convencer o Major Hermogenes.
A tramitação dos papeis demorou um pouco, e
somente em 1914, o Sr. Henrique vende o Frigorifico de Minas Gerais, amortece
um pouco suas dividas, e com o restante de seus recursos começa a construção tão
sonhada.
E, como já afirmei acima, dessa vez, quer ser
mais preciosista, e manda então buscar na Alemanha o amigo e arquiteto Carlos
Meyer, para se encarregar da construção.
Assim sendo, pondo o Sr.
Carlos Meyer todo seu conhecimento à disposição do Sr. Henrique, começou a
construção do Complexo Frigorífico, da cidade de Cruzeiro.
Fotos do Frigorifico Möeller já construído e
funcionando em 1917
Foto mostrando o ramal
ferroviário dentro do seu espaço físico
Foto da
Residência do Sr. Henrique Elvir Möeller
Foto do Setor de
Fabricação de Banha de Porco e Embutidos
Foto do Setor de secagem da Carne Seca (charque).
O setor era tão
grande que necessitou fazer duas fotos.
Maquinário interno
Foto do Restaurante da Administração e
Visitantes
Em 1916 inaugura-se a nova
empresa. A obra fica tão boa e espaçosa, que dá para sentir nas fotografias
tiradas na época de sua construção e expostas acima.
Apesar de belo e muito
funcional, este Frigorifico ficou sob sua tutela somente seis ou sete anos
(talvez, nem isso). Pois logo, logo o “aventureiro
adormecido, desperta novamente dentro
da família”, E o destemido Sr. Henrique, vende o complexo frigorífico, e
compra três fazendas em Lorena-SP. Mais tarde, deixa São Paulo e muda-se para o
estado de Goiás, onde talvez já enfermo, encontra o Descanso Eterno nos Átrios
do Senhor.
Aqui eu abro um parêntese. E devo explicar que
foi essa a história que eu ouvi de quem sabiam ou tinham parentesco com o pioneiro Elvir Moelher.
Confesso que para mim a história deste pioneiro deveria ficar como eu a contei.
Contudo, depois deste
trabalho pronto e editado, o historiador Vicente Vale, me procurou e segundo
ele, o final é o seguinte:
“ O Major Hermógenes quando prefeito de Cruzeiro e iniciou os papeis de
desapropriação e concessão, não deu o terreno para o Sr. Henrique Elvir
Moeller. Apenas concedeu à ele a CONCESSÃO POR 50 ANOS”.
Para dar inicio ao projeto o
Sr. Henrique Elvir Moeller teve que se
endividar. Ele, imagino eu, devia ter investido o saldo da
venda do Frigorifico de Barbacena-MG, que fora insuficiente, e complementado o
investimento com empréstimos feitos junto aos bancos, aos quais ele dera
erroneamente, o terreno do Frigorifico como penhor.
Quando os bancos começaram a
cobrar os empréstimos, o Sr Elvir se viu em maus lençóis.
E o historiador Vicente
Vale, continua: “uma observação
importante: a planta quem assinou foi o Major Hermógenes. no Processo Judicial
dessa desapropriação, lá está a planta do Frigorífico que o Henrique Moeller
trouxe para mostrar ao Prefeito da época, alegando que iria construir um
Frigorífico igual aquele de Barbacena/MG.
O que ele fez? Ele penhorou esses 17 alqueires num banco do Rio de
Janeiro, e como não pode efetuar o pagamento, o banco acabou leiloando essa
área toda, que até então sempre pertenceu a Prefeitura Municipal.
Ele, o Sr. Elvir, tinha essa concessão por 50 anos, e jamais poderia ter feito essa penhora.
Seus desdobramentos, inclusive com uma Ação de Reintegração de Posse da
Área movida na época pela Prefeitura Municipal, se encontra no Museu Major
Novaes.
Nesta foto dá ver parte dos
terrenos onde hoje se situam os bairros Primeiro Retiro, Vila Rica e Vila
Batista. E ao longe, pequenos traços da cidade de Cruzeiro. Foi sem duvida
nenhuma, uma obra caríssima.
Visita do Presidente Rodrigues Alves
Já nesta época, a empresa
gozava de muito prestígio, que constantemente recebia visitas de personalidades
marcantes, tais como nesta foto, em frente a residência de luxo, que fazia
parte do complexo do Frigorífico, mostrando a comitiva e o Presidente da
República Sr. Comendador Francisco de Paula Rodrigues Alves, quando eleito pela
Segunda vez, em 1918. Só que infelizmente o Comendador não conseguiu tomar
posse. Pois, adoentado que estava, veio a falecer, sendo substituído por Delfim
Moreira, que marcou nova eleição para o ano seguinte - 1919.
Dentre outras pessoas, dá para notar Sra.
Minna Möeller, seu esposo o Sr. Henrique Elvir Möeller e o Próprio Sr.
Presidente Rodrigues Alves, próximo à coluna da varanda
Para encerrar esta primeira
fase, vou fazer minhas, as palavras do Sr Nicolino Ferrari, outro grande
expoente da literatura cruzeirense, que também era ligado ao Sr. Henrique por
parentesco:
Um Pioneiro
Fundador é fundador,
Sempre ouvi isto a dizer;
Sem tomar partido ou cor,
Devo aqui esclarecer.
Pelos lados da fazenda
Do velho Major Novais
Um teutão armou a tenda,
Derrubando uns matagais.
E o “Frigorífico” ergueu
O agudo Möeller Henrique
E o meu Cruzeiro cresceu,
Sua fama nele fique.
Isto foi em dezesseis,
E a industria ganhou impulso
E Cruzeiro teve vez
Com o duro alemão de pulso.
.............................................
Lá está o “Frigorífico”,
Agora uma obra completa,
E aquele sono magnifico
Do Henrique o nome projeta.
...............................................
Depois de espalhar riquezas
Por estes brasis a fora,
O Möeller teve incertezas,
E a sua estrela descora.
Quis recobrar-se em Goiás,
E lá foi tentar a sorte,
Porém o sertão mendaz
Preparou-lhe ingrata morte.
Foi o Moeller alemão
Da minha terra um pioneiro,
E riscar não poderão
O seu nome de Cruzeiro.
(O grifo da última estrofe é
meu, perdoe minha interferência, grande mestre).
Não retiro uma palavra
sequer da pesquisa do historiador Vicente Vale, pelo contrario eu as ratifico.
Mas, mesmo tendo falido ou
não, eu considero o Sr Elvir um Grande Vulto da História de Cruzeiro. E o que
fez, mesmo se endividando, não podemos de forma alguma lhe tirar o titulo de
Grande Empresário e Grande Visionário, apesar de ter falido ou não.
O legado dele, num futuro
próximo, se tornou a maior empresa de “Proteína Animal”, mais completa possível.
E essa história que agora muda seus heróis, só foi possível com a visão do Sr. Henrique
Elvir Möeller.
*****************
Depois do Alemão Moeller,
vieram muitos outros empresários. E todos, vinham imbuídos do mesmo sentimento
alvissareiro: “Fazer da empresa uma forte
fonte de renda própria, mas paralelamente propiciar também o desenvolvimento da
nossa cidade, ofertando empregos”.
E foram tantos, que a
própria história não suportou guardar tantos nomes. Por isso não falaremos
destas administrações que passaram pela empresa, e que por algum erro, ou por
alguma razão maior, não lograram o êxito que tanto desejavam obter.
Contudo, devemos reconhecer também, que mesmo
não dando certo como cada um gostaria que desse, o simples fato de terem tentado,
fez com que a empresa jamais fechasse suas portas para sempre.
E baseado nessa referência,
eu, em nome dessas famílias que dependeram única e exclusivamente do
Frigorifico, principalmente as que vieram depois de passadas estas gestões,
deixo aqui para estes heróis anônimos (é bom que se diga, anônimos somente aqui
nestas páginas), O NOSSO MUITO OBRIGADO e um mais do que sublime: “DEUS LHES PAGUEM”.
No inicio de 1935, os
últimos proprietários Sr. Jorge Galvão e Mário Bittencourt, que nada tinham a haver
com o nome “BIANCO”, que por muitos anos ficou pintado nas paredes do prédio,
passaram todo o complexo para a famosa dupla de empresários: Dr. Theodoro
Quartim Barbosa e Dr. Caio Paranaguá Muniz. O nome BIANCO acima referido, teria
sido agregado às suas paredes, quando a concessão esteve pertencendo a uma
família de italianos, que também fizeram sua tentativa no sentido de fazê-lo
sobreviver, na década de vinte.
Mas, é sobre a melhor fase
de toda sua existência, é que nos deteremos mais, para que nossa juventude
possa completar sua identidade de cruzeirense, levando para dentro do recôndito
de seus corações, um pouco da glória imortabilíssima que tiveram seus pais e
seus avós, por terem um dia pertencido
ao quadro de funcionários desta empresa EXCEPCIONAL
Era de Ouro
Toda a população desejava o
sucesso, de quem quer que se dispusesse a levar o Frigorífico à frente. Para
todo empresário que conseguia a concessão, só Deus sabe quantas e quantas
orações foram feitas aos Céus, pedindo que a Mão do Criador, abençoasse o rumo novo.
Mas toda mudança trazia uma
série de contratempos burocráticos e, portanto, para implantar a nova
filosofia, era preciso um pouco de paciência da população, pois o processo é
lento por natureza. Qualquer empresário, por mais simplório que fosse, levava
uns meses para passar toda a empresa a limpo. Isso é, tinha que rever todos os
pontos bons e ruins. E na tentativa de localizar o ponto negro, onde o empresário
anterior havia naufragado, precisava dialogar com todos os fornecedores. E não
só dialogar, mas também acertar as dívidas existentes para assim, passar para
eles a nova imagem da empresa, e etc.
E com esta nova dupla de
empresários, essa etapa demorou mais tempo do que as outras, isto devido talvez
ao fator “experiência”, que eles deviam ter mais do que os seus antecessores.
Mas como disse acima, para o
povo que nada disso entendia, achavam que esta demora, já era um mal presságio
de mais uma atroz derrocada. Os boatos se espalhavam pelas ruas, provocando
suspeitas negativas, quanto ao seu funcionamento.
Finalmente chegou o dia
01/04/1939. Já no dia anterior haviam chegado os bois. E junto com eles,
voltava a esperança de uma comunidade.
E este dia Primeiro de
abril, entrava definitivamente para a história do Frigorifico e da cidade de
Cruzeiro: Essa data marca a primeira matança de gado do FRIGORÍFICO CRUZEIRO
S/A, e daí em diante a diretoria comemorava religiosamente todos os anos, o dia
primeiro de abril, com largos festejos que envolviam não só os empregados, como também seus familiares.
Foto de uma das festas coletivas de um dos vários
primeiro de abril, no
frigorifico.
Para comprovar o que falo,
abro aqui um parêntese para transcrever o discurso do Sr. Luiz Quartim Barbosa,
no primeiro de abril de 1958, publicado no jornal interno da empresa chamado:
“Folha do F.A.C.”.
Foto Sr. Luíz
Quartim Barbos, quando Presidente da ACIAPC,
nos anos de1959/1960,
com sua esposa Mary, filha adotiva de Dona Tita.
CONFRATERNIZAÇÃO
Primeiro de abril, aniversário do Frigorífico, a nossa grande data de
confraternização.
Nesse dia o regozijo é geral; todos em uníssono cantam hosanas ao
Frigorífico. A alegria contagia a todos... é dia de festa.
Já vão longe os anos em que num desses dias, tiveram inicio em Cruzeiro
as festividades do Frigorífico Cruzeiro Ltda.
Com seus passos vacilantes, agravados pela situação obscura que então
cercava os negócios, dava a impressão de que era mesmo um “primeiro de abril”- uma
“mentira carioca”.
Não era, realmente, muito fácil a uma firma desconhecida, iniciar suas
atividades sobre o rescaldo de um grande
incêndio.
--- “Eles vão se queimar, como
tantos outros que por aqui passaram”, diziam todos aqueles que não
conheciam a força que nos guiava e que ainda hoje nos acompanha.
Mas então que força é essa!
É a determinação, o querer e a força de vontade.
Os nossos diretores, agraciados pelas bênçãos divinas, enfrentaram os
problemas com a mesma fibra dos pioneiros e bandeirantes. Venceram todas as barreiras
que se lhes antepunham, tendo nessa luta a colaboração indispensável, leal e
decisiva de todos os componentes da Empresa.
Por este motivo é que hoje realizamos essa nossa festa de
confraternização.
Capital e trabalho – patrões e empregados, unidos pelo mesmo ideal,
ombro a ombro criaram o Gigante e
hoje comemoram o seu grande feito.
Tudo isso, porém, não foi conseguido sem lutas, nem sem muito trabalho,
aborrecimentos e algumas desilusões. Entretanto, a grande inteligência, a
bondade e a fibra inquebrantável de que é dotado o nosso grande chefe, Dr.
Theodoro Quartim Barbosa, sempre nortearam as nossas atividades. Era ele que,
nos momentos de desânimo, com seu estímulo, trabalho e determinação,
acudia-nos, dando-nos o necessário alento para continuarmos a lutar. Em sua
magnitude e alto espírito de solidariedade humana, soube enfrentar com
desenvoltura, também o problema social. Criou um clima, um ambiente propício
para que, do melhor intercâmbio entre capital e trabalho, chegássemos à
completa harmonia social, transformando o Frigorífico num verdadeiro “Seio de Abrahão”.
Dezenove anos são passados!
Muitos dos nossos companheiros ficaram pelo caminho, mas deles não nos
esquecemos e, neste momento de saudade, reverenciamos suas memórias. Dentre
eles, todos tiveram destacados papéis na peça que representamos. Menção
especial, merecem os saudosos amigos Müller e Alberto Marques, porém a todos
eles desejamos a Santa Paz do Senhor!
Comemoramos hoje o 19º Primeiro de Abril do frigorífico.
Aquela simples idéia cristalizou-se, criou forma, desenvolveu-se e é hoje o que
conhecemos.
É a realidade dinâmica que se agiganta, criando riquezas, distribuindo messes,
amparando uma grande coletividade!
Convido a todos os meus amigos da família frigorificana irmanados pelos
mesmos ideais, para, elevando os nossos sentimentos, pedirmos ao Todo Poderoso
que, na sua bem-aventurança, continue a derramar suas graças, abençoando o
nosso querido Dr. Theodoro, para que em sua liderança inconfundível, continue a
ser, com vida e saúde, o nosso hábil timoneiro, levando sempre a nossa náu a
salvo das tormentas”.
Se eu fosse alguma grande
personalidade do governo municipal, eu faria uma placa de bronze com este
discurso do Sr,. Luiz Quartim Barbosa, e colocava-o num pedestal, em uma das praças
publicas, de nossa cidade. Pois ele simplesmente reflete, tudo aquilo que o
Frigorifico foi e representou naquela época para a cidade de Cruzeiro. Além do
mais, ele bem mostra a cultura que este homem tinha, e justifica plenamente os
cargos que acumulou, não só dentro das hostes do Frigorífico, mas também nos
esportes e na sociedade cruzeirense.
Ele foi mais um dos muitos
vultos de nossa história, que eu daria tudo, para ter tido a honra de
conhece-lo. Ah!, como gostaria de ter nascido aqui!.
Segundo Pedro Gussen, cujo
quadro de funcionários desta empresa pertenceu entre os anos de 1951 a 1961,
galgando os cargos de Sub-contador, chefe da Expedição e reorganizador de
Vendas, que embora não tenha sido esta uma marca rotineira, mas em alguns meses
do ano, o frigorífico chegava a abater nada mais nada menos do que 700 cabeças
de boi por dia ( dado este que não é uníssono entre todos os entrevistados,
pois há também quem afirma que teve dias, em que esta marca chegou a 1000
cabeças).
Contudo, levando-se em conta
que o Frigorífico trabalhava também com porcos, é bem possível que na média
entre bois e porcos, este numero pudesse muito bem ultrapassar a cifra de Pedro
Gussen. Cifras estas que faziam o Frigorífico manter, além do grande terreno em
volta de seu próprio prédio que abrigava cerca de 1000 cabeças de bois, um
terreno grande onde hoje fica localizado
o bairro Segundo Retiro e uma Fazenda em Rufino de Almeida, que se chamava
Fazenda Santana, onde o estoque de reses
chegava a atingir mais de 1.000 cabeças, para desta forma, atender este consumo
violento e diário.
Para ilustrar o que disse
acima, eu vou aqui colocar umas fotos do Frigorífico Cruzeiro S/A.
Em baixo, no inicio da subida, havia uma
vala com água e detergentes com dupla função: higienizar as patas do gado e ao
mesmo tempo colocá-los mais acessíveis aos choques elétricos a que eram
submetidos, para fazê-los andar para cima. Na escada paralela à Rampa, ficavam
os funcionários com um bastão elétrico para espetar os bois e assim fazê-los
subir a Rampa.
Uma Empresa de Ponta
Nos anos Quarenta
Já na década de 1940, com um
numero bem grande de empregados que atingia a casa de 700 funcionários, o
Frigorífico que passava a se chamar, sob as tutelas dos Drs.: Teodoro e
Caio: FRIGORÍFICO CRUZEIRO LTDA,
colocava em funcionamento junto ao seu complexo, um consultório médico com a
supervisão do Dr. Walter Salomão e Dr. Monteiro e um gabinete odontológico sob
os cuidados do Dr. Jurandir Novaes (parente de Da. Celestina), à disposição de
seus empregados e seus dependentes.
Para as funcionárias que trabalhavam na sala de
Desossa, o Frigorífico mantinha uma creche dentro de suas instalações, e permitia
que as mães em estado de aleitamento, interrompessem suas tarefas e para lá se
dirigissem, afim de amamentar seus
filhos, que por lá ficavam o dia inteiro sob os cuidados de pessoas
qualificadas.
Mantinha para todos os
empregados uma cobertura sobre Acidentes Pessoais, com a Companhia Meridional
de Seguros, visando com isso, dar uma maior proteção a seus empregados.
O pagamento dos salários,
era feito rigorosamente todo dia cinco e dia vinte, de cada mês.
No final do ano, comemorava
o Natal, presenteando os filhos de seus empregados.
Para medicamentos receitados
pelo médico do Posto Médico do Frigorífico, a empresa bancava com cinqüenta por
cento do valor pago nas farmácias locais, mediante comprovações.
Dentro de suas instalações,
funcionava também um armazém sem fins lucrativos, que fornecia a todos os
funcionários, para desconto em folha de pagamento, os víveres e a carne a preço
de custo, praticamente.
Sobre a gestão dos próprios
funcionários, funcionava uma “caixinha” que proporcionava empréstimos, com
juros baixos, à eles próprios.
Funcionava também um
campeonato interno de futebol. Entre os
funcionários formava-se mais de dez times, e a disputa era acirrada.
Todo dia primeiro de abril o
frigorífico fazia uma churrascada para os funcionários e familiares, em
comemoração à primeira matança de bois, acontecida em 01/04/1939 ( neste dia
matou 80 bois).
Em muitas regiões dentro da
cidade de Cruzeiro, tais como: na atual Vila Paulo Romeu, na Vila Batista
(parte alta e parte baixa), na Rua Voluntários Paulistas, e etc. a empresa
mantinha várias casas residenciais, onde alojava muitos de seus empregados sem
cobrar-lhes nenhum aluguel.
Os empregados usufruíam de uma instalação
sanitária, onde podiam tomar banhos no
final de cada dia de trabalho, para limpos, regressarem a seus lares. Também
lhes eram fornecidos uniformes e calçados para o trabalho. E em contra partida,
lhes eram também cobrados, uma completa
higiene em seus vestuários.
(usando
orgulhosamente o uniforme)
Na frente de suas
instalações, isto é, do outro lado da rua Voluntários Paulistas, ficava o campo
de futebol onde todas as tardes, treinava o time do FRIGORÍFICO ATLÉTICO CLUBE, o glorioso FAC. Este era o
nome do espetacular time de futebol, mantido pela própria empresa, que através
de seu superintendente Francisco Lemos, não media esforços para contratar os
melhores atletas da região, dando-lhes empregos na empresa.
A empresa patrocinava um
jornal que levava o nome de FOLHA DO FAC. Mais tarde, este jornal foi
substituído pela revista ALVORADA, cujo nome foi sugestionado pela marca com
que a empresa comercializava sua linha
de produtos.
Os funcionários, contando
também com o apoio da diretoria, formaram uma linda e numerosa banda de musica,
que ostentava o orgulhoso nome de Banda do Frigorífico. E esta banda trajando
seu uniforme azul claro, fazia retretas aos domingos, na praça Nove de Julho.
Perto da casa onde morava o
Sr. Luís Quartim Barbosa, esta empresa mantinha um hotel de sua propriedade,
para hospedagem de empregados não residentes em Cruzeiro e Compradores que
vinham a Cruzeiro em busca de seus produtos.
Nos fundos do terreno da
empresa, mais ou menos onde hoje se situa o Bairro Vila Rica, era mantido uma
pista de pouso particular para o avião da empresa. Ali também pousavam os
aviões de autoridades importantes, tais como embaixadores, governadores etc.
que nesta época visitavam o Frigorífico.
A empresa dava tanto apoio
ao time de Futebol, que na ata do
Conselho Deliberativo, do dia 17/03/1945, está escrito o seguinte trecho:
“... expôs o Sr. Presidente, que a firma industrial, FRIGORÍFICO
CRUZEIRO S/A, passaria a subvencionar o Clube, ficando por essa razão isentos
de pagamentos de mensalidades todos os indivíduos empregados daquela
empresa”...
Um outro destaque deste
prestígio, podemos ler no jornal “FÔLHA DO FAC”, página 04, do dia 01/06/1956:
“ Noticia alvissareira: ... a diretoria do Frigorífico Cruzeiro S/A,
doou 40 macacões de frio para os atletas do Clube, que deverão ser estreados na
próxima excursão que o time fará à cidade de Ribeirão Preto....”
Se não bastasse isso, os
jogadores passaram a concentrar-se, nas fazendas e hotéis da região, dois dias
antes dos seus jogos.
E esta paixão pelo futebol
não fica por aí só, não. Eu tenho comigo, cópia da ata da reunião do Conselho
Deliberativo do FAC, realizada na
memorável tarde do dia 03/06/1948, mais precisamente às 16 horas. Quando
na presença de toda diretoria do clube, a diretoria do Conselho deliberativo e
mais o ilustre casal Sr. Virgílio Antunes de Oliveira e de Sua Sra. Celestina
Novaes dos Santos Antunes, se deu a compra do terreno para a construção do seu
estádio, que naquela mesma tarde, mesmo estando ainda em fase embrionária, já
ganhava o batismo de “Estádio Professor
Virgílio Antunes de Oliveira”.
O preço pago pelo terreno foi de 300,000,00
(trezentos mil cruzeiros), mas além de ter sido dado um prazo bastante longo
para a quitação da dívida, o distinto casal, facilitou ao máximo as condições
para que o Clube não viesse a se sucumbir, com tal aquisição. Tanto isto é
verdade, que em reconhecimento, a diretoria, além de dar o nome do professor ao
estádio, também naquela mesma tarde, o elegeu Vice-Presidente de Honra do FAC.
Estação
de tratamento de água
Segundo o Químico Industrial
Dr. José Vasco de Figueredo, que ocupou o cargo de Diretor Adjunto do
Frigorífico, a fiscalização em determinada época pressionou o Frigorífico a
usar uma água de melhor qualidade, isto é, uma água devidamente tratada.
Para resolver esta situação,
foi então estudado a construção de uma Estação de Tratamento de Água. E segundo
ele, foi utilizada as instalações de uma firma de curtição de couros, que se
instalou em Cruzeiro mais ou menos por esta época, mas que infelizmente não
obteve o sucesso desejado. Esta empresa se chamava CICLA e suas instalações
ficava na atual rua Teodoro Quartim Barbosa, mais precisamente perto da Revendedora
Ford e o supermercado ali existente.
De forma que a partir desta
época então, o Frigorífico passou a tratar a água que vinha do Ribeirão do
Braço, e transforma-la em água potável.
Como podemos ver, uma
estrutura igual a esta, bem poucas empresas neste gigante que se chama Brasil,
pode se dar ao luxo de ter, mesmo nos dias de hoje.
Sua Produção
Segundo José Carlos de
Castro, era costume dizer dentro das hostes do Frigorifico, que ali se perdia
somente o “berro do boi”. Pois tudo
se aproveitava, se não vejamos:
Algumas partes menos nobres
tais como o chifre, o sangue, eram juntamente com os ossos, desviadas para a
Graxaria e ali se tornavam matéria prima para fabricação de rações.
Os couros, depois de limpos
por banhos de ácidos, eram enviados para o Cortume Carioca, no estado do Rio de
Janeiro, que os compravam.
Peças como o traseiro e o
dianteiro do boi, eram vendidos inteiros, junto com as salsichas, mortadelas e
lingüiças de sua fabricação própria.
O Frigorífico, ainda
mantinha nos terrenos, onde hoje se situa o bairro do Segundo Retiro, uma
manada de vacas leiteiras, que cujo leite vendia aos laticínios.
E para aproveitar seu
equipamento para latarias, ele fabricava extrato de tomates, goiabadas,
marmeladas, azeitonas e outras mercadorias mais, e ainda fazia sua
distribuição.
As tripas, depois de limpas
e tratadas, eram vendidas para fabricação de linguiças.
A banha de porco, que na
época era mais rentável que a própria carne do animal, por que ainda não
existiam os óleos vegetais, tinham mercado certo e promissor a cada dia.
O presunto cozido, era
comercializado em latas ovais. E para exportação, o Frigorífico mantinha certos
tipos de carne: Acém e Língua de boi, ambas enlatadas. A primeira ia para o
Japão e a Segunda para os Estados Unidos.
Era também fabulosa a
produção de charque, para atender um enorme mercado consumidor.
Ritual da matança
Segundo o Sr José Monteiro
de Castro, que começou a trabalhar no Frigorifico em 1939 e saiu em 1966, para
que os bois subissem a rampa, que os levavam à sala da matança que ficava no
terceiro andar, eles primeiro passavam numa espécie de piscina rasa, que tinha
dupla finalidade: a primeira de lavar os cascos com detergentes, e a Segunda,
molhar as patas para receberem o choque elétrico, que os faziam subir a rampa.
Na chegada em cima, no
chamado alçapão, ficava o marreteiro que acertava a cabeça do animal e
derrubava-o. Um boi passava na mãos de quase todos os magarefes, porque a
produção era em linha, isto é cada magarefe fazia uma tarefa e passava o boi à
frente.
--- Depois da marretada, o
“amarrador” passava a corrente nos pés e suspendia a rês para o trilho. Com a
ajuda de carretilhas, deslocava o animal para a esquerda e entrava o
“sangrador” que sangrava-o, na parte inferior do pescoço, bem debaixo do
queixo. Neste momento, ele começava a trabalhar a cara do boi e fazia-a. Depois
entrava eu, dizia
o Sr José Monteiro, e continuou. fazia um
talho no couro e fazia penetrar o ar comprimido, que entrava entre a carne e o
couro, fazendo o boi ficar como se
fosse uma balão. Desta forma soltava o couro todo. Ficava então faltando soltar o couro das mãos, dos pés, do rabo e
onde mais fosse extremidade. Passando
a frente, entrava os magarefes que se incumbiam de cortar as peças.
Muitas vezes um animal recebia a marretada e não caia. E quando isto
acontecia, costumava sair do alçapão para o centro da sala. Atacava os
magarefes e as mulheres que trabalhavam na sala ao lado. Quantas e quantas
vezes, eu vi as mulheres subir nos canos de sustentação do telhado, que ficava
no meio da sala... colegas meus mesmo... de vez em quando alguns recebiam
chifradas nas nádegas e caiam dentro da caixa de carretilhas.
Uma vez, um boi pulou do alto da rampa e se esborrachou todo no chão.
Como Chegava o Gado
Havia três maneiras
distintas para o gado chegar ao Frigorífico.
A primeira era pela Rede Mineira de Viação –
Bitola de 1,00 m. Nesta o trem passava pela Estação de Cruzeiro e ia
descarregar o gado na Estação de Rufino de Almeida. Dali para o Frigorifico,
ele vinha tocado por boiadeiros, que também eram empregados do
Frigorífico. Entravam na cidade indo
direto para o pasto que ficava ao redor da empresa. Como este caminho era
único, esta rua até hoje é conhecida como “a rua da boiada”, e fica na atual
Vila Paulo Romeu.
A Segunda, pela Central do
Brasil – Bitola de 1,60 m. Para o sucesso desta operação, a Central do Brasil
prolongou suas linhas até a frente do Frigorífico, que dava para a rua
Voluntários Paulistas. Dessa forma então, os bois eram descarregados praticamente
dentro do terreno da empresa. Só que esta não era uma forma nova, pois já existia
desde o Tempo do Alemão Sr. Henrique.
A terceira, pela frota de
Caminhões do Frigorífico. A empresa possuía caminhões do tipo gaiola, para
buscar bois em Governador Valadares, Teófilo Ottoni, Montes Claros, Araçatuba,
etc., e seus motoristas, também pertenciam ao seu quadro de funcionários
efetivos e registrados.
Administração Theodoro Quartim
Barbosa
e Caio Paranaguá Muniz
Theodoro era um empresário
muito rico, dele é conhecido que era proprietário do Banco Comércio e Indústria
e do Frigorifico Cruzeiro. Este último em sociedade com o Sr. Caio Paranaguá
Muniz.
Teodoro vinha a Cruzeiro
sempre que podia, ou sempre que aqui necessitasse de sua presença. Caio
Paranaguá, era responsável pelo Escritório do Rio de Janeiro, onde o
Frigorífico mantinha sua maior praça de vendas. Mas em relação à Theodoro, Caio
vinha mais a Cruzeiro. E de vez em quando, trazia também sua esposa, para
passar uns dias na cidade.
Para administrar o
Frigorifico, de inicio o homem forte foi o Sr. Francisco Lemos, depois o Sr.
Luiz Quartim Barbosa (Diretor Gerente) e mais tarde, o Sr. Oadir Costa Barbosa
(Gerente Industrial).
Esta administração trouxe muito prestígio para a
cidade. Pois com freqüência, aqui vinham personalidades tais como: o Governador
Ademar de Barros; embaixadores (Alemanha, Inglaterra, França e Japão);
candidatos à presidência, como o Marechal Lott, etc.
Foto do
Marechal Lott, sendo recebido pelo Sr.
Luiz Quartim Barbosa na residência do complexo frigorífico, quando este se
candidatou à Presidência da Republica
Durante o período em que o Sr. Luiz Quartim Barbosa foi o Diretor Gerente, a empresa admitiu um alemão que se chamava Wolfgang Müller, que era um grande especialista em resfriamento de carnes. Fato este que contribuiu em muito, para a boa fama que a empresa gozava, de ter a melhor carne congelada do país.
Lendo estas maravilhas, o leitor se pudesse me perguntaria: Se o Frigorífico era tão bom para estes empresários, se ele era quase uma mina de ouro, porque então resolveram vende-lo?
Pois saibam que esta pergunta eu também a fiz, muitas vezes. Mas foi um funcionário, que não quis se identificar, e que na época foi Encarregado do Expediente ligado à Diretoria, o qual, aproveito agora o ensejo para agradecer-lhe o material que me forneceu para a Memória do Frigorifico, quem me deu a resposta mais convincente, dizendo:
--- Acontece que na entrada da Wyllis Overland, no Brasil no inicio da
década de 60, O Dr. Theodoro foi convidado para ser o Presidente desta multinacional.
Desta forma, ele achou melhor mudar de ramo... e foi fabricar automóveis.
Visita ás Ruínas
Para isso, aproveitei e
explorei a paciência do Sr. José Carlos de Castro, que se prontificou em servir
de cicerone para minha curiosidade, e juntos, percorremos as ruínas de suas
antigas instalações.
Chegamos ao Frigorífico
precisamente às três horas da tarde de um domingo de carnaval. Depois de
conversarmos com o guarda que ali trabalha, conseguimos permissão para adentrar
aquele portão imenso. E meu amigo cicerone que, se por um lado sentia um prazer enorme de ali
novamente entrar, depois de trinta e quatro anos de afastamento, por outro,
sentia uma tristeza e um vazio, tão grandes, por deparar com aqueles restos
mortais, daquela que para ele foi a maior empresa que um dia teve o prazer e o
privilegio de poder trabalhar. Pensei por um momento que ele fosse chorar,
talvez por vergonha de mim não o fez, mas sei lá se não o fez depois que o
deixei de volta em sua casa... as paredes não falam.
Aqui, dizia ele, ficava
a portaria de entrada e saída dos
funcionários... Tinha até uma lâmpada vermelha que ascendia aleatoriamente,
enquanto os funcionários iam saindo... mas quando ela ascendia, o empregado que
estava em frente a ela, caía na revista. E saindo da portaria, logo em
frente, ficava a balança gigante, onde pesavam os caminhões com as cargas.
Empolgado com as lembranças, José Carlos, olhando para os prédios de alvenaria
que eram contíguos à construção da portaria, explicava:
Ali, ficava os
escritórios... aqui a Contabilidade.. ali o Caixa... mais à frente a seção de
Estatística... ali a Expedição... na
parte superior ficava a sala dos Diretores... a sala do Sr. Luís Quartim...
aqui ó funcionava o Armazém, e era comandado pelo “Irineusinho”, ele já
faleceu... ali no fundo ficava a Capela... e aqui do lado da capela um
vestiário para os funcionários...
Estávamos andando numa rua
larga que ficava em frente a este correr de casas, cujas funções meu guia
destacava. Olhando para o outro lado, ele dizia.
Ali.. naquela sala, ficava a
seção de couros... e ali o Laboratório... neste Laboratório, ficavam os
inspetores da Saúde Pública também, que fiscalizavam todas as dependências do
Frigorífico diariamente... aqui ficava o embarque das carnes... veja bem... lá
em cima,
apontava ele para o terceiro pavimento do prédio central, acontecia a matança dos bois...
eles subiam em fila indiana pela rampa que fica do outro lado... de quatro em
quatro iam recebendo o golpe de marreta na cabeça e caiam numa chapa de aço
inoxidável... aí entrava o pessoal da sangria, e sangrava-os ali mesmo.... esta
chapa de piso ficava um pouco inclinada de modo a recolher o sangue para o
canto e o enviava por meio de calhas, à Graxaria... em cima, ao alto, ficavam
os trilhos com os ganchos.... depois desta operação de sangria, os animais eram
dependurados já sem vida no gancho e desocupavam o setor, onde adentrava outros
para receberem o fatídico golpe... e assim por diante... até a marca de 500
bois diários.... estes trilhos circundavam o salão onde em cada setor uma
equipe trabalhava os animais abatidos... uns tiravam o couro.... outros
separavam a cabeça... outros serravam o boi ao meio... etc.. e neste continuo
movimento do trilho, as peças iam parar na câmara fria que ficava na parte
inferior do prédio central... e quando os caminhões então paravam aqui para
receberem a carga, estas peças então saiam de dentro da câmara fria penduradas
nos mesmos ganchos que entraram... o trilho com as carretilhas chegavam até
aqui, ó... mostrava ele o local de embarque, ...somente aqui, era necessário
funcionários para retirar do gancho as peças e coloca-las dentro dos
caminhões...
Uma coisa me despertou a
atenção. Do outro lado, seguindo a ala dos escritórios, havia um espaço muito
grande e umas estruturas de madeiras, que mais pareciam cercas, que cobriam a
área toda, umas atrás das outras, e perguntei então o que seria aquilo. E ele
me respondeu:
Aqui era o lugar onde
ficavam as mantas de charque curtindo ao sol... a produção de charque era uma coisa espantosa... e esta
estrada aqui era o caminho oficial para a residências que ficava ali, só para
diretores.... daqui não dá para vê-la, mas ela está ali no meio daquelas
árvores... e este caminho aqui era cheio de árvores com suas copas se
encontrando no meio.... era lindo isto aqui... Ah!.. e na frente das casas
ficava um tremendo jardim... era a coisa mais
linda isto aqui... e o mais importante era que não havia cheiro ruim de
espécie alguma... Ah!.. e ali ficava a oficina do Modesto... Sebastião Modesto
Gonçalves.... era ele que dava assistência para mais de sessenta balanças, bem
como também as máquinas de escrever do frigorífico, grande profissional...
Depois deste estágio, José
Carlos então me chamou para ver a parte de trás do prédio central. E para lá
então nos dirigimos. Passamos por um portão e chegamos num lugar que mais
parecia as ruínas da antiga Grécia. A decepção do meu amigo, ficou visivelmente
estampada em seu rosto. Sua respiração parou e senti que ele queria chorar.
Devo explicar que José Carlos de Castro havia entrado para o quadro de
funcionários do Frigorífico em 1963, mas sua convivência com Frigorífico e suas
instalações, vinha de muito tempo atrás, porque seu pai o Sr. José Monteiro de
Castro, era empregado desde 1938, exercendo a profissão de magarefe e José
Carlos ainda garotinho, tinha a incumbência de levar todas as manhãs o café
para ele, porque ele, seu pai, entrava em serviço de madrugada.
Daí então, era lógico
compreender seu estado de decepção. Logo que passamos o tal portão, com voz
meio embargada, ele recomeçou sua descrição.
Aqui ó... no lugar destes
buracos, eram todas as ruas calçadas com paralelepípedos, e certinhas... ali
naquela chaminé de quase oitenta metros de altura, funcionava a Caldeira... ali
mais em baixo, a Graxaria, onde se fazia os insumos para ração... aqui neste
espaço que só dá para ver os restos de algumas colunas, funcionava a Oficina de
Manutenção das máquinas do frigorifico... ali mais em baixo, onde estão aquelas
casas, ficava o Almoxarifado e do lado dele a Oficina Mecânica que assistia os
veículos do frigorífico... é... o Frigorífico mantinha uma frota de caminhões
para buscar bois em fazendas da região... e aqui mais perto, antes do prédio do
Almoxarifado, ficava a Triparia... tinha
uma turma só para tratar as tripas que eram vendidas para fabricação de
lingüiças.... e ali a Buxaria... e aqui a Salamaria...
Neste local, apesar dos
estragos bastante assentuados, ainda dava para ver os restos de azulejos
brancos assentados ainda nas paredes que sobreviveram ao tempo... neste momento
até eu me emocionei ao ver o que tinha sobrado daquele monstro, que havia sustentado uma cidade... mas a voz de José
Carlos, me trouxe de novo à realidade.
Dizia ele,
...dá pena Sr. João... principalmente para mim que entrei aqui como office-boy
e vinha aqui todo dia, passando pela Câmara fria, saindo na sala de matança de
porcos e chegava até aqui, onde estamos...
esta Salamaria aqui, era uma das mais modernas da época... agora vendo o
que sobrou... dá pena.
E dentro ainda da Salamaria,
ele destacou para mim o lugar onde ficava o alto forno, que cozinhavam as salsichas e o presunto. Depois
disso deixamos o lugar.
Mas não demos mais do que
vinte passos e logo então apareceu
diante de nós a rampa... era uma rampa estreita e comprida, pois saindo do
chão, no meio do gramado ela ia até o terceiro andar do prédio central,
sustentada por colunas. No seu inicio havia uma espécie de piscina própria para
a higienização dos bois, e depois então eles eram tocados rampa acima.
A minha curiosidade aumenta
e me faz subir a rampa. O piso dela ainda se encontra como era, segundo me
afirmou José Carlos. Era ele forrado com cascalhos incrustados no cimento e de
meio em meio metro, mais ou menos, uma pedra retangular era assentada
atravessada para evitar que o boi escorregasse. Chegamos na parte de cima. Aqui
a rampa se abria um pouco e logo depois se estreitava novamente, de forma a
deixar passar um boi por vez.
Entramos na sala de matança
dos bois, e todo aquele cerimonial descrito mais acima, José Carlos repetiu
novamente. E ao ver a sala de Desossa, completou.
Olha Sr. João... parece que
estou vendo a sala cheia de mulheres... todas elas vestidas de branco... as
mesas, feitas em aço inoxidável... aquele movimento todo... e virando rapidamente disse:
ali
Sr. João... bem ali trabalhava meu pai... ele era magarefe...parece até que
estou vendo ele ali, agora... o trilho com as carretilhas circundavam o salão
todo, e depois então descia por esta rampa, contornava a escada lá embaixo e
entrava na câmara fria...ali Sr. João naquele canto ficava a meninada esperando
a hora de entregar o café, que haviam trazido para seus pais... por muitos anos
eu fiz parte deste grupo de garotos...
Vamos descer... vamos, disse
para ele. E descemos. Mas José Carlos não parava de falar... o Frigorífico era
tudo para ele... e como ele, sei que existe muitas outras pessoas na cidade.
Administração Fialdini
A família Fialdini tinha o
Frigorífico Minerva, na cidade de Barretos e um outro na cidade de São Carlos,
cujo o nome me falha a memória.
Surgiu uma oportunidade e
eles então compraram o Frigorífico T. Maia, da cidade de Araçatuba e logo
depois, em 1963, o Frigorifico Cruzeiro. Desta forma então, eles passaram a
controlar quatro empresas no ramo de carnes e embutidos.
Como o Frigorífico Cruzeiro,
gozava de muito prestígio junto a fornecedores, clientes e bancos, foi fácil no
inicio administrar esta nova empresa. Além disso, havia o fato de que a esposa
do Sr. Américo, era sobrinha do Presidente da República da época, o Sr. João
Goulart. Fato este, que por si só, iria ajudar e em muito a rolagem desta
dívida volumosa. Em função desta ultima afirmação, fica no ar uma pergunta:
será que os Fialdini avançaram no “angú quente”, aproveitando o mandato de João
Goulart como vice-presidente de Juscelino Kubitschek durante um período de
cinco anos e ainda como sucessor de
Jânio Quadros na Presidência do Brasil, e aí então compraram os dois últimos
Frigoríficos? Haja visto que, segundo o Sr. Pedro Lourenço dos Santos, que
trabalhou na empresa de 1944 a 1966, administrando a Brigada de Segurança da
empresa, disse-me:
--- Os caminhões do Frigorífico, na era Fialdini, não sofriam
fiscalização nenhuma por parte da
polícia federal.
E ainda segundo o Dr. Vasco
de Figueredo, na época como Diretor Adjunto do frigorífico, afirma:
--- Se fosse necessário, podia até vender, sem a respectiva Nota Fiscal.
Quando veio a quebra do
império Fialdini em 1966, esta foi geral. Isto é, quebraram-se os quatro
frigoríficos de uma vez só. E o Frigorífico T. Maia, da cidade de Araçatuba,
voltou para as mãos do seu antigo dono. Isto prova que ele não estava pago,
portanto é de se supor que a divida contraída pelo grupo italiano, era por demais
alta.
Eram três os Fialdinis, Américo, Sérgio e Domênico. Desses
três, só o Américo é que ficava aqui em Cruzeiro para administrar a mais nova
empresa. É voz corrente entre os empregados, que se tratava de um homem muito
violento. E é ainda o Dr. Vasco Figueiredo, quem endossa este parágrafo,
contando.
--- ... estava eu na sala, quando o Américo desentendeu com um
funcionário que tinha cargo de confiança. Depois de várias ofensas e palavrões
de baixo calão proferidos por ele, ele se levantou da cadeira e pegando um
cinto que ficava pendurado na parede, atras de sua mesa, e partiu para cima
deste funcionário. Sorte... que estando eu
presente, pude impedir que a
coisa progredisse.
Se não bastasse o gênio
violento do Sr. Américo, ainda veio para Cruzeiro um sobrinho seu, de nome
Sérgio, que tinha momentos de nítida loucura. Pois logo que chegou a Cruzeiro,
colocou fogo na parte de trás do almoxarifado, só para ver como agia a brigada
de incêndio. Este incidente, provocou muitos danos, entre estes, o próprio
funcionário Sr Sebastião Modesto teve seu braço direito fraturado, ao ajudar a
dizimar o fogo.
Este Sérgio, gozava de boa
reputação entre os funcionários, apesar se mostrar ás vezes, como já disse,
meio amalucado. Era um colecionador de armas e como tal, possuía um arsenal de
mais de duas centenas delas em sua casa. Exímio atirador, e para esta pratica,
comprava pólvora na fábrica de Piquete (como fazia isto não sabemos), mas com a
pólvora comprada, fazia com que o Sr. Sebastião Modesto, que era um artesão de
primeiríssima qualidade, fabricasse balas de calibre 28, só para o seu consumo.
Para ilustrar este fato,
narro aqui o que me contou o próprio Sr. Sebastião Modesto, em seu escritório
situado nos fundos de sua bela e espaçosa residência.
--- ... um dia desceu um avião lá no campo do Frigorífico, e os agentes
do DEIC, procuravam por um tal Didi. Didi era como eles me chamavam. Só que
para sorte minha e azar de outra pessoa, ao descerem do avião, eles deram de
cara com um tal de Dinei, que por sua vez também tinha este mesmo apelido. Ao
ser perguntado se conhecia alguém com o apelido de Didi, ele simplesmente
respondeu que Didi era ele. Coitado!... colocaram-no no avião e voaram para São
Paulo.
Disse o Dinei, quando retornou a Cruzeiro depois de tudo esclarecido,
que quando chegou na delegacia em São
Paulo, ele muito nervoso ascendeu um cigarro. Logo, logo tomou um tapa no rosto
e o delegado lhe disse ríspidamente: “fique já sabendo que aqui dentro ninguém
pode fumar”.
Sorte Minha, disse o Sr. Modesto, que apesar de terem levado a pessoa
errada, o caso da pólvora “comprada” em Piquete, foi esclarecido por outras vias, não
precisando mais do meu depoimento.
Embora não tenha sido uma
administração muito ortodoxa, não foi exatamente a administração Fialdini, a
principal culpada pelo fim da empresa, mas sim outros fatores de ordem
econômica, é que influenciaram diretamente na sua falência.
O motivo maior foi a
escassez de gado nas proximidades do Frigorífico. Porque não os achando por
aqui, as compras começaram a se fazer bem mais longe de Cruzeiro. Vinham bois
de Governador Valadares, Araçatuba, Montes Claros, Presidente Prudente, Dores
do Indaiá, etc. O preço, a cada compra ficava mais alto, sem contar que uma boiada, dentro de vagões gaiolas, por um
espaço de quatro ou cinco dias, acusava na sua chegada uma perda de mais ou
menos duas arrobas por unidade. E o Frigorífico não podia se dar ao luxo de retardar
o abate desses bois, para recuperar o peso perdido.
Nos meses de entre safras,
as compras se escasseavam muito, porque os fazendeiros se recusavam a vender
seus bois magros. Isto então fazia com que o Frigorífico estocasse carnes em
suas câmaras frias. E eram dezesseis câmaras grandes. Este prejuízo, somando-se ao longo dos meses do ano, foi por
certo uma das causas de fracasso.
Embora estes problemas
fossem críticos para a vida do frigorífico, não eram problemas novos não, pois
já no tempo do Dr. Theodoro Quartim Barbosa e Caio Paranaguá Muniz, este
problema tanto já existia, que eles começaram a construir um novo frigorífico,
com o nome de Frigorifico Alvorada, na cidade de Presidente Prudente.
Logicamente, como todo bom negociante, Theodoro deve ter omitido este fato dos
novos compradores.
FALÊNCIA
Em função dos problemas
acima descritos, o Frigorífico teve que fazer um empréstimo com valor muito
elevado, junto ao Banco do Brasil, para sanar suas contas. E para quem tinha um
Presidente da República, “debaixo do braço”, isto não era tarefa difícil para
eles conseguirem.
De forma que a situação ia
se arrastando como podia, mas ia.
Mas, com a chegada da
revolução de 1964, na qual os militares tomaram o poder, a empresa que antes
navegava em mares mais ou menos calmos, se deparou com a turbulência da
resistência dos militares, principalmente em cima dos familiares do Presidente deposto.
O Banco do Brasil começou a
dar seus primeiros tiros na direção do Frigorífico. Por ironia, o órgão onde
fora muito fácil fazer empréstimos,
agora passava a exigir suas quitações, com juros e correções cambiais. Aí sim,
começa a “via crucis” da família Fialdini.
E um dia, estando o
Frigorífico com mais de dez toneladas de carnes estocadas em suas câmaras
frias, justamente para vencer a entre safra que se aproximava, recebeu a visita
de um embaixador alemão, que veio a Cruzeiro para comprar carnes para seu país.
Este alemão talvez fosse o
“anjo que caiu do Céu para salvar o Frigorifico e não deixar que ele caísse em
estado de liquidação”, pois ele se
dispôs a comprar toda a carne estocada, para o seu governo. Só que
infelizmente, esta venda não pode ser concluída.
Não sabemos qual foi a razão
para o impedimento, mas sabemos que por um desentendimento entre o Américo
Fialdini e a Fiscalização Federal, esta carne teve vetada a sua exportação.
Depois de muito negociar, o Frigorífico conseguiu ordem para somente
industrializa-la. Sob o argumento de que iria industrializa-la, quem a comprou
neste estado de desvalorização, foi o
Frigorífico Sola da cidade de Três Rios-RJ. Eles a compraram e a exportaram,
mas o nosso Frigorífico não pode fazê-lo. Coisas do nosso Brasil...
Conclusão
Graças ao bom Deus, a cidade
conseguiu sobreviver sem o Frigorífico. Hoje ela tem várias industrias
estabelecidas dentro do seu território,
que trazem paz e sossego aos seus habitantes.
Mas jamais poderá esquecer
deste monumento que foi o Frigorifico.
E eu como um simples morador
desta comuna, volto a repetir o quanto invejo, a velhice daqueles que viveram
este período de glória, que mais parece “uma
história dentro de uma cidade, do faz de conta” --- Ah!.. o que eu não daria...
para ter nascido aqui!
P.S.
"Um escritor, (principalmente, pequeno como eu), não
vive do produto da venda daquilo que escreve, mas sim do aplauso que recebe por
ele. E quando este aplauso vem da parte de uma das nossas maiores estrelas da
literatura cruzeirense, meu coração se emociona tanto, que me transbordo no
desejo de partilhar com você, querido leitor ( se por ventura houver algum)".
Meu caro João de Assis
Seu trabalho ilustrado sobre
o FRIGORÍFICO CRUZEIRO, desde sua fundação até 1966, retrata relevante período
de nossa história.
Sua leitura me proporcionou
gratificantes reminiscências dos anos 1951 a 1961, quando lá trabalhei
sucessivamente como sub-contador, como reorganizador de seu Departamento de
Vendas e como chefe, por sete anos, de sua seção de Expedição, o ponto
nevrálgico de sua excelente estrutura. E redator da “Folha do FAC” e da
“Revista Alvorada”, Ainda na época de ouro comandada pelo Dr. Theodoro, Dr.
Caio, Sr. Luiz Quartim e Oadir Barbosa.
Período, repito, que marcou
imorredoura página nos Anais cruzeirenses.
Meus vívidos cumprimentos,
meu caro João de Assis.
Somente um espírito
devotado, percuciente e dinâmico, como o seu, poderia reviver e concretizar tão
belo, necessário e nobilitante trabalho: - uma contribuição generosa e
amorável, não permitindo que se morram no esquecimento tão nobres e esplêndidos
episódios de nossa História.
Cordial abraço.
Pedro Gussen
Cruzeiro SP, fevereiro 2001.
Sobre o Autor
Tenho hoje 71
anos de idade, casado e pai de três filhos e praticamente três netos
adoráveis (o terceiro chega agora em julho, e vai se chamar Mateus).
Profissionalmente: projetista ferroviário e, como
tal, trabalhei na Amsted Maxion, da
cidade de Cruzeiro – SP e hotolãndia-sp.
Mineiro por
naturalidade, mas confesso que adotei Cruzeiro como minha cidade, e daqui não
pretendo sair tão cedo.
E em nome desta
terra que me foi tão solícita e dos amigos que nela fiz, procurei enaltecer este sentimento de
gratidão, fazendo minhas histórias acontecer, em oito dos onze livros que
escrevi:
1 - Amor
e Ódio: Aventura
romanesca de ficção, vivida na Cruzeiro do pós-guerra de 1946 e pós-Estado Novo
de Getulio, tendo como enfoque principal o holocausto judeu. Publicado pela
Editora Viseu e expostos para venda nos sites livreiro como: Editora Viseu;
lojas americanas; saraiva; amazon; cultrix; etc.
2 - Os
Três Inocentes: Aventuras
contemporâneas bem humoradas, no estilo “inglês Pickwickiano”, também vivida
nesta adorável cidade (ainda na gaveta).
3 - Quatro
Dias de Cão, em Cruzeiro: a
guerra do narcotráfico com a polícia
(ficção) (na gaveta)
4 – Contos: a religião católica escrita com criatividade (ainda na gaveta).
5 - Estórias:
Neste livro deixo a minha proposta de que ainda se pode fazer humor, sem apelar
para a pornografia. Ainda na gaveta).
6 – Garra
Italiana: Enaltece a
valentia e a força da fé de um povo sofredor e trabalhador. Tendo como pano de
fundo a cidade Matão-SP. Pronto para o prelo, mas ainda na gaveta).
7 – fragmentos
de meu coração/Fragmentos de mi corazón (bilíngüe MS ainda na gaveta).
8 – Os
Sapatos: Peça teatral sobre drogas. (na gaveta), mas representada
por três vezes: duas no teatro capitólio e uma no Rio de janeiro – RJ.
9- A
busca Ao Santo Graal: aventura
vivida nas cidades de Conselheiro Lafaiete-MG e Cruzeiro-SP (ainda na gaveta).
1o - História
do Frigorífico Cruzeiro: desde
sua fundação em 1916 até 1966. Foi produzido no total umas trezentas copias em
Xerox e distribuídas em Cruzeiro – SP, quando da exposição de fotos d o
Frigorifico que realizei no capitólio em 2002/2003, com apoio da digníssima
Secretaria de Cultura de Cruzeiro da época, Dona
Ondina
Em abril de 2001, eu fiz com o apoio de Dona ndina, à epoca secretária da Educação e cultura de Cruzeiro-sp, uma exposição de fotos no grande Teatro Capitólio. Abaixo o texto de abertura que escrevi na época.
Abertura da
exposição do Capitólio
O Frigorífico foi uma das
páginas mais lindas da história de nossa cidade. Durante muito tempo, foi sem
dúvida nenhuma a maior fonte de empregos que a cidade possuiu. Por causa dele,
nome Cruzeiro, ganhou muita força e passou a ser respeitado dentro e fora deste
nosso Brasil.
Por isso, dentro das
comemorações do centenário da cidade de Cruzeiro, não podíamos de forma alguma,
deixar passar desapercebido esta empresa, que foi a fonte, que uma boa parte de nossa população, se saciou.
Imbuído deste espirito,
procurei famílias idôneas que tiveram ligações com ela, notadamente os
ex-funcionários. E para surpresa minha, presenciei nestas entrevistas, muitas
lágrimas sentidas, que corriam naquelas faces enrugadas e envelhecidas pelo
tempo, quando se punham a relembrar a época de ouro, pela qual haviam passado.
Na força deste velhos
funcionários, eu encontrei forças para reunir estas fotos e evitar que tal
memória viesse a ser esquecida.
Agradeço a todos que com boa
vontade contribuíram com este projeto, inclusive a Secretaria de Cultura,
Turismo e Esportes de Cruzeiro, que na reta final, acolheu minha idéia e deu
amplas condições para que este sonho fosse materializado.
Não vou citar nomes, porque poderia incorrer
no infortúnio de esquecer algum, e isso seria imperdoável, pois não foram
poucos, os que me ajudaram.
Cumprida esta tarefa, agora
passo para os cuidados desta Secretaria, a guarda definitiva deste acervo de
fotos e documentos, e espero um dia vê-lo novamente, mas em um local mais apropriado para sua
conservação.
E à todos que aqui
compareceram e marcaram suas presenças neste livro de atas, o meu mais sincero
agradecimento.
Muito obrigado, e que Deus
lhes pague
O autor:
João Batista Baêta de Assis.
Membro da Academia
Cruzeirense de Letras e Artes de cruzeiro-sp
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Muito interessante o artigo,parabens
ResponderExcluirQue interessante. Acabei despertando a curiosidade a partir de um vídeo. Que riqueza de detalhes. Parabéns!
ResponderExcluirBelo artigo.
ResponderExcluirParabéns pela belissima historia principalmente da familia do Sr Elvir Möeller. Só gostaria de ratificar a foto apresentada como Frigorifico de Barbacena (está incorreta pois a imagem apresentada era da antiga Praça da Liberdade em Barbacena). Vejam em imagem no GOOGLE "Frigorifico O MERIDIONAL". Foi um grande empreendimento em Barbacena MG uma das maiores Industrias do Estado de Minas Gerais. Veja tambem em http://fotosantigasbarbacena.blogspot.com/ e verão dezenas de fotografias deste grande empreendedor.
ResponderExcluirFico muito Lisonjeado pela História deste incrível Frigorífico de minha querida Cidade ,onde nasci onde deu Empregos a muitos colaboradores daquela Epoca meus pais trabalharam nesse Frigorífico que hoje só resta saudades e muitas Tristezas em vê lo nesta situação de desleixo e abandono é igual a nossa querida e Extinta RFFSA quem sabe algum dia apareça um Homem de punhos fortes para recuperá -los , Patrimônios Históricos.nada cidade de Cruzeiro SP.
ResponderExcluirOlá João, obrigada por escrever sobre o frigorífico. Eu sou descendente dos Möller e queria ter mais informações a respeito. Gostaria de entrar em contato com vc se possível. Obrigada novamente, Adriana
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